"A solidão mais significativa e enraizada que experimentamos vem do desejo ardente de ver a Deus. Parece que Deus nos fez de tal modo que dentro de nós existe um certo espaço, uma sede, um vazio solitário que só Ele pode preencher. Nós somos como uma caverna de profundidade infinita. Evitar entrar na solidão conduz-nos necessariamente à superficialidade, a uma vida fora da nossa profundidade e riqueza.
A dor da nossa solidão pode ser uma ajuda imensa, na medida em que nos mantém num estado de inquietude e insatisfação. É natural que procuremos estabilidade e segurança, no entanto, temos de estar conscientes que este desejo nos pode acomodar e instalar. O nosso lugar é o caminho. Tão depressa como comecemos a desfazer as malas para nos instalarmos, assim a nossa solidão e inquietude nos fazem voltar e desejar o caminho. Estamos feitos para um amor e uma unidade infinitos. Temos de aceitar que esta inquietude é uma parte incurável do ser humano. Não aceitar esta condição conduzir-nos-á a viver fora de nós".
Carlos Maria Antunes
in: "Atravessar a própria solidão"
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