"Os jovens evangelizam-nos com as suas opiniões acertadas, as suas queixas, os seus problemas e as suas preocupações. (...) O que importa é a nossa atitude perante a juventude concreta que vive no meio de nós. (...) Se nos refugiarmo-nos no clássico «antigamente é que era bom», e lançarmos no rosto dos jovens que perderam os valores tradicionais, que estragaram tudo quanto havia de bom na vida, que não são sérios nem constantes, que não têm consciência nem decência, e que não sabem ganhar a vida nem fazer nada de útil... não facilitaremos as relações recíprocas. Pelo contrário, se soubermos aproximarmo-nos, aceitar, entender, admitir pelo menos que não entendemos e se nos mostrarmos dispostos a falar e a escutar, e mais do que dispostos, vivamente interessados, então sim, poderá haver entendimento, proveito mútuo e esperança para todos com o contributo de todos.
Não façamos comparações. Procuremos completar-nos.
(...) Para definir as atuais modificações de geração para geração, J. M. Lozano utilizou a expressão «o radar substituiu a bússula». A metáfora é esclarecedora. A bússula é o norte fixo, igual para todos e sempre o mesmo, que existe por si mesmo independentemente das nossas buscas e rejeições, e que indica a meta suprema e inalterável do caminho humano. O radar é a vastidão de 360º, na qual o raio vibratório parte do centro em busca de referências, da resposta sempre nova e modificadora da realidade, momento a momento, da informação exata, da reação instantânea; o radar representa a procura contínua e a descoberta surpreendente, a alegria do encontro e a fugacidade do vislumbre, o perpétuo alerta e a vigilância ininterrupta. É fácil ver até que ponto estas duas imagens correspondem às atitudes culturais e espirituais com que vivemos. A bússula seria a atitude tradicional, com a sua fixidez objetiva, eterna e universal, quanto aos princípios morais e ao comportamento social. O radar seria a atitude moderna, ou até pós-moderna, pela qual a busca emana da própria pessoa, se estende a todo o horizonte de valores, fixa objetivos próximos, temporais, alternativos, e os aceita, um a um, à medida que se apresentam na vastidão escancarada. (...) O melhor seria que soubéssemos entender as duas tendências, seguindo uma e outra, conforme nos ajudassem a realizar as tão variadas tarefas da existência humana."
Carlos G. Vallés, Os jovens evangelizam-nos.
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