"Para se compreender o papel do sindicalismo, em bom rigor, da defesa organizada de interesses numa democracia, pode fazer-se este exercício que em muitos sítios é tudo menos absurdo.
Imaginem que, em Portugal, em 2010, não havia sindicatos, nem os que existem (na sua maioria influenciados pelo PCP através da CGTP), nem quaisquer outros. Uma coisa seria certa, os salários seriam muito mais baixos, os desempregados muitos mais, o trabalho precário a norma, a vida dos trabalhadores muito mais fragilizada e a economia não seria muito diferente. Pelo contrário, teria continuado a viver de uma competitividade à custa dos baixos salários, mas mesmo assim longe dos salários chineses e indianos, romenos ou búlgaros. Haverá quem diga que não há problema porque é assim nos EUA, mas a verdade é que não é assim nos EUA. Nos EUA há legislação laboral, sindicatos e uma muito diferente mobilidade social, profissional e geográfica. E é para cima, por regra. Haverá também quem diga que não faria mal à competitividade da economia portuguesa uma nova “flexibilidade” especialmente com maior facilidade de despedir e empregar e menos rigidez da legislação laboral.
É verdade, mas coloquem-se no lugar de alguém que tem emprego, e perguntem-lhe se está disposto a perdê-lo ou a torná-lo mais precário em nome da reparação da economia e da sua competitividade. Não está, porque uma coisa é a racionalidade económica e outra a expressão de interesses individuais e colectivos que partem das circunstâncias concretas das pessoas".
Pacheco Pereira, in revista "Sábado" e blogue "Abrupto"
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