segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

É perigoso ter gente que pensa...

Sol - Que reforma é que se pode fazer?
FV - Nenhuma, porque é isso que interessa ao poder. Ter uma sociedade de gente que pensa é muito perigoso. Ter uma sociedade de gente que pensa que pensa é fantástico. Temos aí as Novas Oportunidades para isso. Nós andamos sempre à procura do pai e à espera que este nos pegue ao colo. Se alguém fizer aquilo que me cabe a mim fazer, bato palmas e fico contente.
(...)

Sol - A Sociedade Bíblica anunciou que iria oferecer exemplares da Bíblia a todos os deputados. Enquanto especialista em assuntos bíblicos, que leituras da Bíblia lhes recomendaria?
FV - Do princípio ao fim. Desde logo, leria o texto dos vendilhões do templo. Há alguma perda do sentido do texto a partir das traduções que temos. A partir do original grego percebe-se que a grande fúria de Jesus é contra os vendedores de pombas. Porquê? As pombas eram o sacrifício, o gesto ritual litúrgico permitido aos mais pobres porque era o mais barato. Os muito ricos podiam oferecer uma vaca, os assim-assim podiam oferecer um carneiro ou uma cabra e os pobres uma pomba. A grande revolta está contra aqueles que, a partir da religião, oprimem os mais pobres. A revolta de Jesus hoje estaria, e está, contra aqueles que, tendo obrigação de cuidar da res publica, mamam à conta da res publica. Desculpe a vulgaridade, mas temos uma política de soutien: apoia a direita e a esquerda e mama das duas. Quem se lixa é o capim. Em África, há um ditado que diz que, quando os elefantes lutam, quem se lixa é o capim. E a todos os níveis nós estamos como capim: ora veja-se o elefante da senhora Merkel, coitadinha, que como pessoa me merece todo o respeito.

Continuação da entrevista de Frei Fernando Ventura ao jornal "Sol"

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