domingo, 27 de fevereiro de 2011

Dúvida




Artigo do Nicolau Santos



Lembram-se da intervenção de Alexandre Soares Santos (Jerónimo Martins/Pingo Doce), dizendo:
-"Já é hora de falar verdade aos portugueses";
- "Truques, só se for com o Sócrates".

Vem logo alguém falar de ética... Olha quem...

...Com base em assuntos "requentados". Por mais razão que o articulista tenha (ver imagem), fica sempre a dúvida de saber o porquê de só agora se falar e desta forma "ad hominem".

Manter o "status quo"


(1) Expresso 19.02 (2) Expresso 26.02 (3) pág. 10 do caderno de economia (26.02)

Em cima temos as últimas duas edições do "Expresso"...

Vejamos como é a "manipulação" no jornalismo...

Na edição da semana passada (19.02), a manchete é "Défice trava a fundo em Janeiro". Na altura, ainda não se sabia (será que não?...) se o resultado era conseguido pelo lado das receitas ou pelo lado das despesas. Entretanto, na segunda-feira, os números foram divulgados e viu-se que o "brilharete" não era assim tão evidente. Aliás, o Director Adjunto do Expresso, Nicolau Santos ("especialista" em economia) chegou mesmo a dizer, na Antena 1, que chegava a dar razão ao Miguel Frasquilho (PSD) e Assunção Cristas (CDS), uma vez que o resultado conseguido era sobretudo à custa da arrecadação de impostos e não tanto pela diminuição da despesa (que até terá aumentado em Janeiro 0,9%).
Esperava-se que o Expresso desta semana (26.02) destacasse isso. Falou, mas sem o destaque da semana passada (sem referir na primeira página, nem sequer na primeira página do caderno de economia)... Aparece na página 10 do caderno de economia: "Um mês a reduzir défice não quer dizer nada". Aliás, refere-se que o défice de Janeiro é o segundo mais alto dos últimos 15 anos!... Então, que critérios para a manchete da semana passada?...
... O que ficou nas mentes dos leitores: a manchete da semana passada e o "fogo de artifício" dos governantes...
Esta é uma das formas de influenciar os leitores, não tenham dúvidas. Isto é feito propositadamente. No entanto, se se perguntar às direcções, elas fazem juras de liberdade de actuação e de independência)...
A edição desta semana, prossegue a forma de influenciar...
... Veja-se o destaque dado na primeira página desta semana à entrevista de Ricardo Salgado - o banqueiro do regime (do BES) - "Na situação actual é muito complicado ir para eleições".
O que quererá isto dizer?... É que, na situação actual (pelo menos), o jornal do "regime" quer manter o "status quo".

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O BEZERRO DE OURO

"Os chamados «países livres» do Ocidente estão mais escravos do que nunca dum «capitalismo sem coração» que, para procurar o bem-estar relativo de mil milhões de pessoas, não duvida em condenar à miséria os outros quatro mil e quinhentos milhões que povoam a Terra.
Os dados dizem-nos que pouco a pouco, mas de maneira inexorável, «o bolo se reparte cada vez por menos bocas. Aquela Europa que há alguns anos oferecia «generoso acolhimento» a trabalhadores estrangeiros, que chegavam para fazer trabalhos que ninguém queria, prescreve hoje «leis de estrangeiros» para colocar barreiras intransponíveis aos famintos que nós próprios estamos a ajudar a criar no mundo.
Quem, na Europa, se importa que dois continentes inteiros - África e América Latina - tenham hoje um nível de vida mais baixo que há dez anos? Quem se vai preocupar nesta Europa, onde vai crescendo a rejeição racista, pelos 14 milhões de crianças que morrem de fome em cada ano?
Vamo-nos habituando a contemplar, bem instalados nas nossas poltronas, como são repatriados esses albaneses doentes, famintos e desesperados que chegam aos portos italianos. Ninguém parece reagir, com grande convicção, diante do espectáculo desses africanos que tentam a «travessia impossível» para acabar n o fundo do mar.
A Igreja não pode anunciar o evangelho na Europa sem desmascarar toda esta desumanidade e sem colocar as perguntas que ninguém quer fazer.
Porque razão há pessoas que morrem de fome, se Deus colocou em nossas mãos uma terra que tem recursos para todos? Porque teremos que ser competitivos e não humanos? Porque é que a competitividade tem que marcar as relações entre as pessoas e os povos e não a solidariedade?
Porque teremos que aceitar, como algo lógico e inevitável, um sistema económico que, para conseguir o maior bem-estar de alguns, faz mergulhar na pobreza e na marginalização tantas vítimas?
Porque devemos continuar a desenvolver o culto ao dinheiro como o único Deus que oferece segurança, poder e felicidade? É por acaso, esta a «nova religião» que fará progredir o homem de hoje para níveis de maior humanidade?"
José Antonio Pagola

Debbie Friedman (1951-2011)

Homenagem à cantora norte-americana Debbie Friedmann, uma das maiores estrelas da música judia, que morreu recentemente, aos 59 anos

domingo, 20 de fevereiro de 2011

História reinventada da formiga

(imagem do Google)

A D. Formiga, amiga da D. Cigarra, como toda a gente sabe, passou toda a sua vida afadigada a colher e a armazenar mantimentos, numa correria doida que nada descansava à sua volta.

Mas, um dia, chegou inevitavelmente o tempo da sua reforma e nunca mais a D. Formiga poderia movimentar-se e correr com a velocidade e azáfama com que sempre trabalhara e era exigência do Formigueiro, pois a Empresa era agora constituída unicamente por formigas mais jovens, ágeis e activas.

A D. Formiga possuía agora umas antenas cansadas, umas pernas trôpegas e já não tinha de marcar o ponto no Formigueiro. Atingira uma certa idade e, por isso, tinha sido dispensada do trabalho.

Então, D. Formiga ficou muito triste e resolveu telefonar à sua velha amiga, a D. Cigarra.

Com voz muito fraquinha, a D. Cigarra atendeu o telemóvel e exclamou:

- Está lá? Quem fala? Não tenho este número gravado no meu telemóvel...

- Oh, minha amiga D. Cigarra, é a tua amiga D. Formiga. Há tanto tempo que a gente não se falava... Como estás?

- Olá amiga D. Formiga. Ainda bem que me telefonaste. Eu estou no Hospital Geral dos Insectos. Fui operada à garganta, não consigo cantar, sinto-me muito sozinha, sabes?

- Ai, minha querida amiga D. Cigarra! Eu vou já aí visitar-te e fazer-te companhia!

E foi assim que a D. Formiga, depois da reforma e quando já se julgava uma inútil, descobriu a sua vocação de querer ajudar quem precisava.

A D. Formiga inscreveu-se como voluntária no hospital da sua zona de residência e lá vai ela, e cá vem ela, para lá e para cá, afadigada outra vez e toda feliz, porque é solidária com a D. Cigarra e com os outros insectos que estão doentes e tanto necessitam do seu apoio.


Isabel Antunes

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Povos querem falar de Deus


Este livro (escrito por dois editores da revista "Economist", um católico e um ateu) tem muito interesse, por aquilo que revela sobre as modernas tendências religiosas.
E tira algumas conclusões surpreendentes...
"Este livro mostrou que os teóricos da secularização estão errados ao afirmarem que a modernidade e a religião são incompatíveis. A religião sempre prosperou no país mais moderno do mundo (e na sua cidade mais cosmopolita). Agora, está também a prosperar na maior parte do mundo modernizado, desde a Ásia ao Médio Oriente. As grandes forças da modernidade - tecnologia e democracia, escolha e liberdade - estão a fortalecer a religião em vez de a minar.
Dêem às pessoas a liberdade de controlarem a sua vida e, para melhor ou para o pior, optam frequentemente por dar à religião mais força. Dêem às pessoas religiosas a tecnologia moderna e elas usam-na para comunicar a Palavra de Deus a uma faixa cada vez mais vasta de fieis. George Bush (quer revelando o seu íntimo secular liberal, quer ignorando a história da América) viu a democracia como uma forma de enfraquecer o islão. Mas, de facto, quanto mais democrático o Médio Oriente se torna mais os "partidos de Deus" prosperam. A democratização da China, se alguma vez acontecer, podia causar, no cristianismo, um dos maiores picos da história da humanidade. «A democracia está a dar voz aos povos do mundo e eles querem falar de Deus», escreveram Timothy Shah e Monica Toft." (pp.500-501)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Onde está o sal dos crentes?

Salinas de Aveiro (via Google Imagens)

"Com uma pincelada não isenta de humor, Jesus define os seus seguidores com um traço a que nós, os cristãos, provavelmente, demos pouca atenção: Jesus vê os seus discipulos como homens e mulheres chamados a ser «sal da terra». Pessoas que põem sal na vida. «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar?».

Os especialistas aprofundaram, nos seus diversos aspectos, o simbolismo religiososo do sal, bastante grande no mundo antigo. O sal aparece como imagem do que purifica, do que dá sabor, do que conserva e dá vida aos alimentos. Provavelmente, as pessoas simples que ouviam Jesus captavam com toda a frescura o simbolismo contido no sal e entendiam que o sal podia pôr na vida humana um sabor e uma «graça» desconhecidos.

O teólogo americano Harvey Cox dizia que o homem ocidental «ganhou o mundo inteiro mas perdeu a alma. Comprou a prosperidade pelo preço dum vertiginoso empobrecimento dos seus elementos vitais». Muitos sentem-se ameaçados pelo tédio, pelo aborrecimento, pelo sem sentido da vida.

São complexas, sem dúvida, as raízes deste fenómeno. Parece que a sociedade industrial nos tornou mais produtivos, metódicos e organizados, mas também menos festivos, lúdicos e imaginativos.

Com frequência procuramos angustiosa e obsessivamente passar bem, sem encontrar dentro de nós uma verdadeira fonte de vida. Talvez tenhamos caído «numa anemia de vida interior» que nos impede de experimentar e viver a vida de cada momento de maneira mais intensa, gozoza e fecunda.

Onde está o sal dos crentes? Onde há crentes capazes de contagiar o seu entusiasmo aos outros? Não se nos tornou insossa a fé?

José Antonio Pagola

Se o sal se corrompe...

"Os cristãos fizeram todo o possível para esterelizar o evangelho; dir-se-ia que o mergulharam num líquido neutralizante. Adormece-se tudo o que impressiona, supera ou vira ao contrário. Convertida, desta forma, em algo inofensivo, esta religião aplanada, prudente e razoável, o homem não pode senão vomitá-la".
Paul Evdokimov, teólogo de S.Petersburgo, citado por José Antonio Pagola.