"Com uma pincelada não isenta de humor, Jesus define os seus seguidores com um traço a que nós, os cristãos, provavelmente, demos pouca atenção: Jesus vê os seus discipulos como homens e mulheres chamados a ser «sal da terra». Pessoas que põem sal na vida. «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar?».
Os especialistas aprofundaram, nos seus diversos aspectos, o simbolismo religiososo do sal, bastante grande no mundo antigo. O sal aparece como imagem do que purifica, do que dá sabor, do que conserva e dá vida aos alimentos. Provavelmente, as pessoas simples que ouviam Jesus captavam com toda a frescura o simbolismo contido no sal e entendiam que o sal podia pôr na vida humana um sabor e uma «graça» desconhecidos.
O teólogo americano Harvey Cox dizia que o homem ocidental «ganhou o mundo inteiro mas perdeu a alma. Comprou a prosperidade pelo preço dum vertiginoso empobrecimento dos seus elementos vitais». Muitos sentem-se ameaçados pelo tédio, pelo aborrecimento, pelo sem sentido da vida.
São complexas, sem dúvida, as raízes deste fenómeno. Parece que a sociedade industrial nos tornou mais produtivos, metódicos e organizados, mas também menos festivos, lúdicos e imaginativos.
Com frequência procuramos angustiosa e obsessivamente passar bem, sem encontrar dentro de nós uma verdadeira fonte de vida. Talvez tenhamos caído «numa anemia de vida interior» que nos impede de experimentar e viver a vida de cada momento de maneira mais intensa, gozoza e fecunda.
Onde está o sal dos crentes? Onde há crentes capazes de contagiar o seu entusiasmo aos outros? Não se nos tornou insossa a fé?
José Antonio Pagola
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