"Os chamados «países livres» do Ocidente estão mais escravos do que nunca dum «capitalismo sem coração» que, para procurar o bem-estar relativo de mil milhões de pessoas, não duvida em condenar à miséria os outros quatro mil e quinhentos milhões que povoam a Terra.
Os dados dizem-nos que pouco a pouco, mas de maneira inexorável, «o bolo se reparte cada vez por menos bocas. Aquela Europa que há alguns anos oferecia «generoso acolhimento» a trabalhadores estrangeiros, que chegavam para fazer trabalhos que ninguém queria, prescreve hoje «leis de estrangeiros» para colocar barreiras intransponíveis aos famintos que nós próprios estamos a ajudar a criar no mundo.
Quem, na Europa, se importa que dois continentes inteiros - África e América Latina - tenham hoje um nível de vida mais baixo que há dez anos? Quem se vai preocupar nesta Europa, onde vai crescendo a rejeição racista, pelos 14 milhões de crianças que morrem de fome em cada ano?
Vamo-nos habituando a contemplar, bem instalados nas nossas poltronas, como são repatriados esses albaneses doentes, famintos e desesperados que chegam aos portos italianos. Ninguém parece reagir, com grande convicção, diante do espectáculo desses africanos que tentam a «travessia impossível» para acabar n o fundo do mar.
A Igreja não pode anunciar o evangelho na Europa sem desmascarar toda esta desumanidade e sem colocar as perguntas que ninguém quer fazer.
Porque razão há pessoas que morrem de fome, se Deus colocou em nossas mãos uma terra que tem recursos para todos? Porque teremos que ser competitivos e não humanos? Porque é que a competitividade tem que marcar as relações entre as pessoas e os povos e não a solidariedade?
Porque teremos que aceitar, como algo lógico e inevitável, um sistema económico que, para conseguir o maior bem-estar de alguns, faz mergulhar na pobreza e na marginalização tantas vítimas?
Porque devemos continuar a desenvolver o culto ao dinheiro como o único Deus que oferece segurança, poder e felicidade? É por acaso, esta a «nova religião» que fará progredir o homem de hoje para níveis de maior humanidade?"
José Antonio Pagola
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