A D. Formiga, amiga da D. Cigarra, como toda a gente sabe, passou toda a sua vida afadigada a colher e a armazenar mantimentos, numa correria doida que nada descansava à sua volta.
Mas, um dia, chegou inevitavelmente o tempo da sua reforma e nunca mais a D. Formiga poderia movimentar-se e correr com a velocidade e azáfama com que sempre trabalhara e era exigência do Formigueiro, pois a Empresa era agora constituída unicamente por formigas mais jovens, ágeis e activas.
A D. Formiga possuía agora umas antenas cansadas, umas pernas trôpegas e já não tinha de marcar o ponto no Formigueiro. Atingira uma certa idade e, por isso, tinha sido dispensada do trabalho.
Então, D. Formiga ficou muito triste e resolveu telefonar à sua velha amiga, a D. Cigarra.
Com voz muito fraquinha, a D. Cigarra atendeu o telemóvel e exclamou:
- Está lá? Quem fala? Não tenho este número gravado no meu telemóvel...
- Oh, minha amiga D. Cigarra, é a tua amiga D. Formiga. Há tanto tempo que a gente não se falava... Como estás?
- Olá amiga D. Formiga. Ainda bem que me telefonaste. Eu estou no Hospital Geral dos Insectos. Fui operada à garganta, não consigo cantar, sinto-me muito sozinha, sabes?
- Ai, minha querida amiga D. Cigarra! Eu vou já aí visitar-te e fazer-te companhia!
E foi assim que a D. Formiga, depois da reforma e quando já se julgava uma inútil, descobriu a sua vocação de querer ajudar quem precisava.
A D. Formiga inscreveu-se como voluntária no hospital da sua zona de residência e lá vai ela, e cá vem ela, para lá e para cá, afadigada outra vez e toda feliz, porque é solidária com a D. Cigarra e com os outros insectos que estão doentes e tanto necessitam do seu apoio.
Isabel Antunes
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