Neste Verão dediquei-me a ler um pouco sobre autores portugueses do virar do século XIX para o XX (já que estamos em vésperas de centenário da República).
Um desses autores é Manuel Laranjeira, que escreveu um livrito chamado "O pessimismo nacional", que é a compilação de uma série de quatro artigos, escritos entre o fim de 1907 e início de 1908 para o jornal "O Norte".
Aí, ele escrevia coisas como estas:
"O mal da sociedade portuguesa é apenas este - a desagregação da personalidade colectiva, o sentimento de interesse nacional abafado na confusão caótica dos sentimentos de interesse individual. (...) O mal na verdade é profundo. E, de facto, o povo português tem amargas razões, razões de sobra, para ser pessimista.
A verdade é que na sociedade portuguesa a noção de personalidade colectiva, o sentimento de vida nacional, o sentimento de pátria se quiserem, não existe sobrepondo-se a todos os outros sentimentos de interesse individual. Existe apenas o sentimento e o espírito intolerante de seita, existe apenas o interesse da quadrilha, mascarados por um messianismo avariado, de ínfima qualidade.
Um dos aspectos mais típicos da vida portuguesa e um dos seus males mais funestos é a sua prodigiosa fertilidade messiânica. A cada passo surge um homem que se sente com envergadura e ventre de messias. Por cada messias que aborta, pululam inesgotavelmente centos de messias, toda uma falperra de messias. E, enquanto a nação rola à aventura de messianismo em messianismo, a sociedade portuguesa, lentamente, infatigavelmente, vai-se dissolvendo e desagregando".
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